Com o ‘novo’ quartel engalanado e a família bombeirística ansianense em peso, faltou no entanto mais gente à cerimónia, com demasiadas cadeiras vazias na sala. Um aspeto notado pelo presidente da Assembleia Geral, Fernando Marques, que traçou um paralelismo com a fraca afluência às assembleias gerais da associação e apelou aos sócios e restante população para acarinharem mais os bombeiros. Mais tarde, o comandante Jorge Requeijo, da Liga de Bombeiros de Portugal, defendeu que essa alegada “falta de cidadania” e “afastamento das populações” se deve ao facto de estas “se sentirem seguras” e darem o trabalho de socorro por garantido e não tanto por “falta de respeito”.
GARROTE ESTÁ A ASFIXIAR
OS BOMBEIROS
António Neves Marques, comandante dos Bombeiros de Ansião há 13 anos, fez um historial da existência da associação desde 19 de dezembro de 1957, quando tudo começou por força da tenacidade de um grupo de 20 homens comandados pelo saudoso comandante Artur Paz. O atual comandante pretendeu com a divulgação desta resenha, que incluiu a evolução do número de ocorrências, “alertar consciências” para a existência de “uma dinâmica inigualável por qualquer associação do concelho”.
E referiu a necessidade “de se investir cada vez mais nestas organizações” e “retirar de uma vez por todas o garrote que está a asfixiar os Corpos de Bombeiros deste país”. Neves Marques catalogou como “ideias loucas” o facto de se querer organizar o socorro em Portugal “remotamente e à distância sem conhecer o território nacional, especialmente as regiões do interior” e reclamou que deve ser entregue aos Comandos dos Corpos de Bombeiros a formação de ingresso e a progressão na carreira de Bombeiro Voluntário bem como toda a gestão dos respetivos quadros “sem a intervenção dos pseudo moralistas e organizados pedagogos”. Reafirmando que “esta força humana é praticamente insubstituível”, o comandante ansianense lamenta a forma como, no seu entender, os bombeiros “têm sido passados para 2º e 3º plano no panorama da proteção civil nacional”.
Contrariando teses de que o voluntariado nos Bombeiros está em vias de extinção, Neves Marques dá o exemplo da sua academia “com mais de 35 jovens a querer ser bombeiros”, mas aponta o dedo a quem tem responsabilidade no sector, acusando que “não deixe que em tempo útil isso possa acontecer”.
Segundo Marques, essa crise que agora não existe pode ser uma realidade a breve prazo, sobretudo “se não forem invertidas as ideias maléficas que alguns iluminados puseram em prática nos últimos tempos”. Continuando as críticas, Marques lamenta ouvir permanentemente frases feitas sobre os Bombeiros vindas dos mais diversos responsáveis, dizendo “que num dia somos o principal pilar da proteção civil mas no outro dia nos atropelam, partindo-nos as pernas e não nos permitindo andar em frente”.
O comandante, dirigindo-se aos “seus” homens e mulheres, deixou palavras de reconhecimento, encorajamento e de solidariedade. Abordando as promoções e distinções, disse que “são as poucas recompensas que vamos tendo para vós, para além do trabalho e mais trabalho, que sempre vos espera em cada turno de serviço e em cada ocorrência complexa a que sois chamados”. Afirmou também que é “muito importante que os bombeiros sintam o carinho de todos, pois muitas vezes passando despercebidos na calada da noite ou no tórrido dia, eles nunca dizem não”.
OBRAS PAGAS E
RECANDIDATURA EM CURSO
Rui Rocha, que lidera a AHBVA desde 2006, subscreveu as críticas do Comandante, acrescentou outras e pediu maior atenção para a associação do concelho com maior número de associados (1.701) e que já é também uma média empresa, empregando 23 pessoas a tempo inteiro.
O presidente da direção fez um balanço dos maiores investimentos operados na Associação desde que a dirige (2006), destacando a aquisição de 14 viaturas (apenas duas com apoio de entidades do Estado Central), o investimento em equipamento de proteção individual e fardamento (cerca 75.000 euros) e em equipamento informático e telecomunicações (mais de 35.000 euros) e a ampliação e beneficiação do Quartel, em 2007 e 2018, num valor superior a 1 milhão de euros. Sobre este último item, Rui Rocha anunciou que a Associação já conseguiu liquidar, durante o ano de 2019, todas as despesas inerentes à sua realização.
O dirigente, manifestando o sentimento de “dever cumprido”, disse no entanto que “esta casa é uma causa em que todos os dias os desafios se vão renovando e onde se deve ter sempre a ambição de fazer mais e melhor” e nesse sentido, anunciou que a sua equipa diretiva se irá recandidatar às próximas eleições em Outubro de 2020.
Agradecendo a todos os bombeiros e suas famílias, Rui Rocha pediu-lhe “que continuem a acreditar nesta nobre causa que a todos nos une” e admitiu que “cada ano que passa mais orgulho e honra sinto por aqui estar, fazendo parte desta grande família dos Bombeiros”.
REGULAMENTO DE APOIOS
SOCIAIS EM PREPARAÇÃO
António José Domingues referiu que foi aprovada em reunião de Câmara do dia 2 de dezembro uma proposta de Regulamento para Apoios e Incentivos aos Bombeiros Voluntários, proposta esse que vai ser discutida em sede de Assembleia Municipal. O autarca, elogiando o papel desempenhado pelos bombeiros, disse ser “muito importante o reforço dos incentivos ao voluntariado”.
Domingues falou na importância de haver “harmonia entre todas as entidades” a bem de um mais eficaz sistema de Proteção Civil, não se escusando a adjetivar os Bombeiros como “um pilar essencial na defesa das populações”. O presidente da Câmara referiu o apoio que a autarquia que lidera tem dado à AHBVA e que ascende já a 407 mil euros, destacando os aumentos nas transferências por delegação de competências (50.000 euros em 2018 e 57.000 para 2020).
Terminou, disponibilizando o Município para continuar a ser parceiro da AHBVA e pediu a todos os bombeiros para “continuarem a dar o seu melhor”.
Na cerimónia, presenciada por vários comandantes de corpos de Bombeiros da região, usaram ainda da palavra o comandante Pedro Lourenço, vice-presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Leiria e o comandante Carlos Guerra, da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, para além do já citado Jorge Requeijo (Liga dos Bombeiros de Portugal).
CONDECORAÇÕES
Na cerimónia foram condecorados vários bombeiros. O sub-chefe Jorge Gomes recebeu a medalha de Ouro (20 anos) e o bombeiro de 2ª Paulo Costa a medalha de Ouro Dedicação (25 anos). Já o diploma de Dedicação e Mérito foi este ano entregue ao bombeiro de 3ª Alex Teixeira.
Por proposta da direção da AHBVA e aprovação da Liga de Bombeiros, foram atribuídas medalhas de Dedicação e Altruísmo Grau Ouro (30 anos) ao comandante António Neves Marques, 2º comandante Rui Costa e aos chefes Luís Cardoso e José Rodrigues.