A presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) considera que o Governo, que tanto prometeu aos territórios afetados pelos fogos de junho de 2017, não pode subtrair o fundo Revita das populações. “Um Governo que tanto nos prometeu, que tanta expectativa criou, neste momento esquece-nos e, pior, ainda nos retira, ainda nos subtrai aquilo que é nosso por direito, que é destas populações por direito”, afirmou à agência Lusa Dina Duarte.
A dirigente comentava a integração do Revita, fundo destinado a apoiar as populações afetadas por aqueles fogos, no perímetro do Orçamento do Estado, que suscitou críticas da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria e de vários deputados do PSD.
Dina Duarte lembrou que após os fogos de Pedrógão Grande as pessoas foram generosas, com o objetivo de ajudar este território. “Logo, não pode neste momento o Governo querer nacionalizar [o fundo]”, declarou, defendendo que as verbas ainda disponíveis devem ser aplicadas nesta região que continua a precisar de intervenções.
A este propósito exemplificou existirem “muitas ruínas” nas aldeias afetadas e “muitas segundas habitações” por recuperar, porque as pessoas não têm possibilidade de o fazer.
Segundo informação disponibilizada no seu sítio na Internet, o Revita, criado pelo Governo, é “de âmbito social, com o objetivo de gerir os donativos entregues no âmbito da solidariedade demonstrada, em estreita articulação” com aqueles três municípios. Aderiram ao Fundo Revita 66 entidades, com donativos em dinheiro, bens e prestação de serviços.
“Os donativos em dinheiro ascendem a 5.446.296,31 euros”, refere o 19.º relatório do fundo, de junho de 2022 (o último disponível ‘online’), explicando que, “atendendo à dimensão das responsabilidades assumidas”, o Ministério da Solidariedade e Segurança Social “reforçou o financiamento do Fundo Revita em 2.500.000 euros, que acrescem ao valor mencionado”.
Neste relatório, lê-se ainda que o fundo tinha “o montante de 1.396.431,09 euros, registado em caixa e depósitos bancários”, relativos a “donativos em dinheiro recebidos até 30 de junho de 2022”.
“Agora este dinheiro, que foi com este objetivo, é aplicado onde?”, questionou a responsável, notando que as “próprias autarquias têm expectativa” de que seja neste território.
Considerando que “não faz sentido que seja de outra forma”, Dina Duarte acrescentou: “Se isso acontecer, temos direito a dizer que, além de sermos esquecidos, fomos espoliados por um governo que nos deixou morrer há seis anos e que agora vem ainda buscar restinhos desta herança não se sabe bem para quê”.
Seis anos volvidos, a dirigente salientou que “as aldeias, muitas vezes, ficam com graves constrangimentos de rede de telemóvel”, notando que foi “algo que criou pânico em 2017”.
Já em termos de gestão florestal, o desejo da AVIPG era de que “fosse ainda mais eficaz” no âmbito da prevenção. “Já percebemos que as mudanças climáticas estão aí, que não temos muito que fazer a não ser prevenir e tentar fazer o nosso trabalho de casa, não só as limpezas florestais junto às aldeias e às casas, mas também junto às vias de comunicação” disse, reconhecendo, contudo, existir “uma “alteração nos procedimentos deste país”.
Para Dina Duarte, há uma consciencialização, mas é preciso “ir mais além”.
No dia em que passaram seis anos sobre os incêndios de Pedrógão Grande, a AVIPG abriu a sua sede, na freguesia da Graça, onde esteve exposto “um memorial artístico que foi levado a cabo pela Fundação Júlio Resende, seguindo-se depois uma missa de homenagem às vítimas, em Vila Facaia.
No dia 18 decorreu a “Volta da memória” em bicicleta, num percurso de 66 quilómetros, tantos quanto as vítimas mortais do fatídico incêndio.