Entrou ao serviço a 30 de setembro uma nova médica que permitirá que o Centro de Saúde de Castanheira de Pera volte a funcionar, depois de ter estado desde o dia 6 sem serviço de Medicina Geral e Familiar.
Os dois médicos que tinham sido colocados provisoriamente no concelho decidiram concorrer para outros locais e o Centro de Saúde ficou sem resposta. Uma situação resolvida entretanto pela autarquia que indicou vários contactos à ULS Coimbra, já depois de ter tomado posição dura e ter acusado esta entidade de “despojar o centro de saúde de recursos médicos”.
Em declarações ao Horizonte, o presidente da Câmara refere esta solução só se tornou realidade porque o município “envidou todos os esforços” para resolver o problema, auscultando vários profissionais e indicando os contactos à Unidade Local de Saúde de Coimbra, que colocou então uma médica no Centro de Saúde de Castanheira de Pera, desde o dia 30 de setembro.
Uma solução que ainda não é a ideal na opinião de António Henriques, pois só vai garantir o atendimento “entre dois a três dias por semana”. O autarca disse que o município está a trabalhar noutras soluções para “melhorar as condições” e uma delas passa por acionar o Seguro Municipal de Saúde e contratar um médico privado, algo que no entanto só avançará em última instância. Este Seguro foi inscrito no orçamento municipal desde 2023, depois de em 2022 ter acontecido outra situação semelhante e o concelho ter ficado sem médicos durante algumas semanas.
COMUNICADO DURO ACUSA ULS
DE “DESPOJAR CENTRO DE SAÚDE”
Na sequência desta situação repetida e que afetou os cerca de 2.700 utentes inscritos na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados, a autarquia emitiu a 12 de setembro um comunicado onde lamentava “não ter sido informada da interrupção do serviço de Medicina Geral e Familiar” e ter sabido dessa situação pelos utentes, acusando ainda a ULS de Coimbra de estar a “despojar o centro de saúde de recursos médicos”.
No comunicado, a autarquia alertava para “as especificidades do território e da sua população”, e para a gravidade do problema face à “inexistência de outros serviços públicos ou privados na prestação alternativa ou complementar de cuidados de saúde primários”, à “distância geográfica e insuficiência ou ausência de redes transportes públicos regionais, que possibilitem o acesso a outros serviços de saúde” e ao “elevado índice de envelhecimento demográfico (cerca de cinco idosos por cada jovem)”.
A isto somam-se “as dificuldades de mobilidade, a baixa literacia e os parcos recursos económicos que evidenciam a elevada dependência na assistência à população idosa”, frisava a Câmara na mesma nota.
MÉDICOS NÃO ESCOLHERAM
CASTANHEIRA DE PERA
A ULS fez saber que, “infelizmente, no último concurso, apesar de todos os esforços, nenhum médico de família escolheu trabalhar em Castanheira de Pera”, assegurando que “está a trabalhar ativamente para encontrar respostas” para o concelho “e para todos os utentes ainda sem acesso a médicos de família”.
A ULS realça que, nos últimos meses “foi possível, até conclusão do concurso, colocar temporariamente dois recém-especialistas no centro de saúde”, para “dar acesso a médico de família à população e também sensibilizar os jovens médicos para o território”, profissionais que agora concorreram e foram colocados noutros locais.
INVESTIMENTO MUNICIPAL SEM
ACOMPANHAMENTO PELO ESTADO
António Henriques lamenta que o município esta a investir e “criar condições para a fixação de empresas e famílias e depois o Estado Central falhe em condições tão básicas como o acesso à Saúde”.
Reforça que “não é da responsabilidade dos municípios a contratação de médicos de família”, mas são eles que têm criado condições para promover “a fixação de médicos nestes territórios”, de que é exemplo o recente regulamento aprovado, que comparticipa despesas com arrendamento de habitação, crédito à habitação e despesas correntes ou deslocações que podem no total atingir os 2.200 euros por mês.
Reconhecendo que o problema da falta de médicos não é exclusivo de Castanheira de Pera, o autarca considera que a situação é, em concelhos com as especificidades deste, “muito mais crítica”.
António Henriques lamenta também que continue a existir “falta de comunicação entre as instituições” e que “tenha sido preciso lançar um comunicado para começarem a haver contactos regulares por parte da ULS” sobre este assunto.