Porque par(á)mos de questionar?
Quantas coisas nos acontecem todos os dias que não acreditamos ou não entendemos e aprendemos a aceitar?
Vivemos numa sociedade cada vez mais polarizada. Com a internet a chegar a todo o lado demos voz a toda a população. Lembro-me do aparecimento do placard e não deixo de pensar nos idosos que vejo a jogar. Por contraste, analiso os lucros anuais gerados e penso que do ponto de vista económico foi um movimento genial, mas à custa de quê? A meu ver, à custa da ignorância dos que já pouco têm, alimentados pelo sonho de uma aposta mudar a sua vida. Aposta essa manipulada, para garantir o ganho da casa de apostas.
A internet expõe a ignorância da sociedade agora mais que nunca. Porquê? Do meu ponto de vista temos na internet a melhor representação da sociedade possível: cerca de 90% tem, à data de hoje, alguma forma de representação nas redes sociais. Como desde pequenos somos educados a acreditar, seja em quem é adulto ou em quem sabe mais do que nós, temos a consequência que qualquer assunto que seja publicado na internet seja aceite como verdade. Quando os nossos pais desistem de explicar e pedem para acreditarmos, estão na realidade a “deseducar-nos”. Como consequência deixamos com o tempo de questionar qualquer tipo de autoridade, seja dos nossos pais, seja dos políticos, das políticas, dos patrões, dos amigos, da internet.
“A people that elect corrupt politicians, imposters, thieves and traitors are not victims, but accomplices.”. George Orwell – Pode ser traduzido para: Uma pessoa que elege políticos corruptos, impostores, ladrões e traidores não é vitima, mas sim cúmplice.
Páramos de questionar. Estamos tão cegos que já vamos no ponto em que somos nós millenials a dizer aos nossos pais para sair do facebook e virem para a mesa. Eu sou programador e crio tecnologia, mas sinto que muita desta está a retirar-nos humanidade. Vivemos para expor uma imagem perfeita nas redes sociais, criamos esta ideia errada que todos estão bem. Passámos do telefonema para um comentário ou um emoji. Pressionamos tanto as pessoas, que não há espaço para expor os nossos problemas.
Multiplicámos a informação que processamos continuamente dezenas de vezes. Já não paramos, vamos do trabalho para casa enquanto atualizamos o whatsapp, o instagram ou o facebook. Jantamos a ler as notícias e a decifrar o que é verdade e o que não é. Já não paramos e só consumimos informação de fontes completamente poluídas de desinformação e publicidade constante e forçada.
Está na altura de parar. Já ninguém se questiona, há tanta coisa a acontecer que a sociedade deixou de conseguir ter foco. Está na altura de nos questionarmos em quem votamos, questionar aquilo que lemos, questionar aquilo em que acreditamos.
Somos educados a acreditar que a nossa cultura é a certa. Que tudo o que os nossos pais fazem, e como fazem, é o correto. Temos de questionar, questionar até que faça sentido. Questionar a nossa justiça até que ela o seja. Questionar quem elegemos e o trabalho que fazem. Questionar a história e aprender com os seus erros.
Até a nossa cultura devemos questionar. Aconselho a leitura de “A queda do ocidente” e do “Papalagui” que nos dão uma perspetiva muito interessante da nossa sociedade. Questionamos tão pouco que tudo de mal que nos acontece é culpa de terceiros ou de forças externas a nós. Existem muitas forças externas, mas é a nossa aceitação que lhes dá força e as elege. Uma sociedade é tão forte quanto a sua ignorância. Orwell dizia que o maior desafio da democracia seria o uso dos meios obtidos através da mesma para usufruto pessoal. O caso mais usual é o uso desses meios para a reeleição ou promoção dentro da própria democracia. Isto reflete-se em toda a nossa sociedade, quando quem tem poder faz questão de o exercer e 90% das vezes para proveito próprio em detrimento dos outros. Assisti a isso em todas as fases dos meus estudos, no meu trabalho e na minha sociedade. Todos usam o pouco poder que têm para abusar da ignorância de outros para usufruto próprio. E os outros 90% seguem caminhando, sem questionar aceitando o futuro que lhes destinam.
É o momento para parar e é o momento para questionar.